Saturday, January 27, 2007

UIRAPURU

"Em certa noite, vi num programa de televisão, um uirapuru cantando. Tão maravilhado eu fiquei, que guardei silêncio por todo o tempo em que durou o canto desse pássaro misterioso, que muitos brasileiros ainda não conhecem e não sabem como é seu canto. Após o programa, ainda sob o efeito da emoção, lembrei-me da lenda do Uirapuru, editada por Jangada Brasil, no arquivo Aves do Brasil, e fiz este pequeno poema, que ora lhes dedico.
http://www.jangadabrasil.com.br/setembro37/especial04.htm


UIRAPURU

De uma grande tristeza,
Mainá chorou.
Acabou-se a beleza,
O amor se apagou.

Não chore, Mainá,
Que a noite vem.
Não chore, Mainá,
Não chore, meu bem...

Acabou-se o pranto,
Mainá não chorou.
Ao mavioso canto
Que um dia escutou.

O feitiço de Tupã,
Toda a tribo já sabia:
Quando Uirapuru canta,
A floresta silencia."


ouça uma versão declamada:

Sunday, December 24, 2006

LUA NO VARAL


A noite é um circo sem lona,
onde anjos brincam
de piscar lanternas imaginárias.


As roupas estendidas,
cuidadosamente arranjadas,
esperam que a noite passe.


Em meu sono,
desejo que fique a noite...


Para que a lua permaneça
e dê vida às sombras
que pendem do velho varal...

Saturday, December 09, 2006

Rimancim



Dim... Dim... Dim...
Lá evém o poeta,
cara de pateta
soprando um flautim.


Dom... Dom... Dom...
E vem a donzela,
— que bela! que bela!
com u'a flor na mão.


Dom... Dim... Dom...
A lua, espiando,
— um verso voando...
oh, que bom! que bom!


Dim... Dom... Dim...
Oh, jovem donzela,
Minha amada e bela!
Sorris para mim?


Dim... Dim... Dom...
Oh, doce poeta!
Tua flauta é uma seta
no meu coração.


Dom... Dom... Dim...
Nesta flauta de jade,
toco por minha amada,
o meu amor sem fim...


Dim... Dom... Dom...
Oh, meu poeta louco...
Este sorriso? dou.
Mas amor, não dou não.


Dim... Dim...
Oh, minha eterna amada...
Tua fala é como espada.
Desprezas meu flautim?


Dom... Dom...
O amor não negaria,
pois cantas co'alegria.
De outro, é o meu coração...


Dim...
Oh, triste viverei!
E não mais cantarei...


Dom...
...E a flauta assim ficou:
sem amor e sem som...

Thursday, December 07, 2006

A LUA E EU


Lua... que outrora iluminaste poetas
e pálidas donzelas...

Tua passagem se faz por distâncias antigas,
tua velocidade transcende mundos e almas.

Eras toda suspiros — intangível pétala —
e agora te encontras nua e desvendada
pelos pés dos homens que te pisaram.

Talvez nunca mais te contemplem
com o mesmo sentido que te vejo agora,
com um leve sorriso e o olhar suspensos
assim,
tão bela... tão lua...

TAPEÇARIA



A natureza imóvel, muda...
Na tapeçaria o verde, silente se reparte
entre caminhos sinuosos, que não dão em nada.
A lagoa parada é toda tranqüilidade
e a ponte de madeira recém-pintada
em cores vivas, repele os passos:
Não foi feita para se passar.
Ponte imóvel, água imóvel...
Uma flor nascente: chegou sem aviso prévio.
O perfume é só de pensamento...

Tuesday, December 05, 2006

VIVA BELÉM, DO GRÃO-PARÁ!


Viva Belém!
A capital das mangueiras,
do Ver-O-Peso e da Baía de Guajará.

Tem açaí até enjoar,
tem castanha, sapoti, taperebá.
Viva Belém, do Grão Pará!

Nunca me esquecerei
do Círio de Nazaré,
da chuva às cinco da tarde,

que eu espero passar
para logo depois, sair e namorar.

Viva Belém!
E viva que é, a morena de lá
esquecer não me deixará,
das noites de lua no velho forte
que foi um dia, defesa do Norte.

Viva Belém,
que saudade me vem
da capital das mangueiras
e do Grão-Pará!

TARDE EM MOSQUEIRO



Terra, doce terra. Uma ilha.
Ilha de rio, com ondas de mar.
Com suas praias tropicais sinuosas
e chalés rendados, tão coloridos.

Doce sabor de pecado,
cheia de formas femininas.
Divinas esculturas, sensuais,
pequeninas.
Jamais vi outras iguais,
jamais...

Meu coração enamorou-se de ti
e teus ares me aprisionaram.
Ai de mim, que não te esqueço.
Ai de mim, ai de mim,
que se não ver-te uma vez mais,
de desgosto e saudade padeço.

Friday, November 10, 2006

PROGRESSO


O progresso às vezes é uma doença.
Repito:
O progresso é, às vezes, uma doença
confortável e suas pequenas vítimas
— morte e vida à parte —
brincam em jogos de grandeza.

O progresso é em verdade, momentoso
— volátil.

Enquanto pensam (novos?) meios
de criar engenhocas mirabolantes,
os homens esquecem-se de que
as folhas (vês?) continuam a cair no outono.

E que a Terra continua a dar voltas contínuas
em torno do sol.

BRASÍLIA 75: AT NIGHT


Vista do mirante da torre
a cidade à noite é fria.
Despida de movimento
ausente de sons e cores.

Há uniformidade nas luzes
em linha reta
norte-sul-sul-norte
um carro atravessa o eixão
a cento e vinte por hora

e as pessoas escondem-se
numa casa qualquer na W-3 Sul...

Sunday, October 29, 2006

Procissão


A mulher percorre as ruas sinuosas da velha cidade...
No semblante não há dor nem cansaço.
Há, sim, uma alva luz de paz circundando-a.
Seus pés miúdos — antigos pés marmóreos —
não tocam o pedregoso chão de cidade antiga.
O povo não deixa e sustenta-a nos ombros.

Está perto agora...

As pessoas vão chegando devagar e se juntando
em torno dessa senhora secular. O povo
quer ajudá-la. Quer carregá-la...
No fim da jornada, começa a festa
e rojões explodem na praça e em todo canto:
Comemora-se o encontro de Maria e Jesus...