Sunday, December 24, 2006

LUA NO VARAL


A noite é um circo sem lona,
onde anjos brincam
de piscar lanternas imaginárias.


As roupas estendidas,
cuidadosamente arranjadas,
esperam que a noite passe.


Em meu sono,
desejo que fique a noite...


Para que a lua permaneça
e dê vida às sombras
que pendem do velho varal...

Saturday, December 09, 2006

Rimancim



Dim... Dim... Dim...
Lá evém o poeta,
cara de pateta
soprando um flautim.


Dom... Dom... Dom...
E vem a donzela,
— que bela! que bela!
com u'a flor na mão.


Dom... Dim... Dom...
A lua, espiando,
— um verso voando...
oh, que bom! que bom!


Dim... Dom... Dim...
Oh, jovem donzela,
Minha amada e bela!
Sorris para mim?


Dim... Dim... Dom...
Oh, doce poeta!
Tua flauta é uma seta
no meu coração.


Dom... Dom... Dim...
Nesta flauta de jade,
toco por minha amada,
o meu amor sem fim...


Dim... Dom... Dom...
Oh, meu poeta louco...
Este sorriso? dou.
Mas amor, não dou não.


Dim... Dim...
Oh, minha eterna amada...
Tua fala é como espada.
Desprezas meu flautim?


Dom... Dom...
O amor não negaria,
pois cantas co'alegria.
De outro, é o meu coração...


Dim...
Oh, triste viverei!
E não mais cantarei...


Dom...
...E a flauta assim ficou:
sem amor e sem som...

Thursday, December 07, 2006

A LUA E EU


Lua... que outrora iluminaste poetas
e pálidas donzelas...

Tua passagem se faz por distâncias antigas,
tua velocidade transcende mundos e almas.

Eras toda suspiros — intangível pétala —
e agora te encontras nua e desvendada
pelos pés dos homens que te pisaram.

Talvez nunca mais te contemplem
com o mesmo sentido que te vejo agora,
com um leve sorriso e o olhar suspensos
assim,
tão bela... tão lua...

TAPEÇARIA



A natureza imóvel, muda...
Na tapeçaria o verde, silente se reparte
entre caminhos sinuosos, que não dão em nada.
A lagoa parada é toda tranqüilidade
e a ponte de madeira recém-pintada
em cores vivas, repele os passos:
Não foi feita para se passar.
Ponte imóvel, água imóvel...
Uma flor nascente: chegou sem aviso prévio.
O perfume é só de pensamento...

Tuesday, December 05, 2006

VIVA BELÉM, DO GRÃO-PARÁ!


Viva Belém!
A capital das mangueiras,
do Ver-O-Peso e da Baía de Guajará.

Tem açaí até enjoar,
tem castanha, sapoti, taperebá.
Viva Belém, do Grão Pará!

Nunca me esquecerei
do Círio de Nazaré,
da chuva às cinco da tarde,

que eu espero passar
para logo depois, sair e namorar.

Viva Belém!
E viva que é, a morena de lá
esquecer não me deixará,
das noites de lua no velho forte
que foi um dia, defesa do Norte.

Viva Belém,
que saudade me vem
da capital das mangueiras
e do Grão-Pará!

TARDE EM MOSQUEIRO



Terra, doce terra. Uma ilha.
Ilha de rio, com ondas de mar.
Com suas praias tropicais sinuosas
e chalés rendados, tão coloridos.

Doce sabor de pecado,
cheia de formas femininas.
Divinas esculturas, sensuais,
pequeninas.
Jamais vi outras iguais,
jamais...

Meu coração enamorou-se de ti
e teus ares me aprisionaram.
Ai de mim, que não te esqueço.
Ai de mim, ai de mim,
que se não ver-te uma vez mais,
de desgosto e saudade padeço.

Friday, November 10, 2006

PROGRESSO


O progresso às vezes é uma doença.
Repito:
O progresso é, às vezes, uma doença
confortável e suas pequenas vítimas
— morte e vida à parte —
brincam em jogos de grandeza.

O progresso é em verdade, momentoso
— volátil.

Enquanto pensam (novos?) meios
de criar engenhocas mirabolantes,
os homens esquecem-se de que
as folhas (vês?) continuam a cair no outono.

E que a Terra continua a dar voltas contínuas
em torno do sol.

BRASÍLIA 75: AT NIGHT


Vista do mirante da torre
a cidade à noite é fria.
Despida de movimento
ausente de sons e cores.

Há uniformidade nas luzes
em linha reta
norte-sul-sul-norte
um carro atravessa o eixão
a cento e vinte por hora

e as pessoas escondem-se
numa casa qualquer na W-3 Sul...

Sunday, October 29, 2006

Procissão


A mulher percorre as ruas sinuosas da velha cidade...
No semblante não há dor nem cansaço.
Há, sim, uma alva luz de paz circundando-a.
Seus pés miúdos — antigos pés marmóreos —
não tocam o pedregoso chão de cidade antiga.
O povo não deixa e sustenta-a nos ombros.

Está perto agora...

As pessoas vão chegando devagar e se juntando
em torno dessa senhora secular. O povo
quer ajudá-la. Quer carregá-la...
No fim da jornada, começa a festa
e rojões explodem na praça e em todo canto:
Comemora-se o encontro de Maria e Jesus...

Thursday, October 26, 2006

AS LAVADEIRAS


As mulheres à beira do rio
— cantam —
de bocas escancaradas,
surrando panos
na pedra gasta.

Entre canto, espuma e sabão,
transitam roupas e corpos gastos
por horas a fio na corredeira.

Espuma e sabão, música e imagem...

Como num filme antigo,
posso ainda ouvir o cantar
— tão natural —
das lavadeiras, à beira de um rio...

Thursday, October 12, 2006

DEPOIS DA CHUVA


No rastro da vespertina chuva
a ave cruza o espaço e anuncia:
Logo será noite,
mais uma noite quente.
Em Belém...

Thursday, September 28, 2006

OS DIAS FELIZES


Que silêncio enorme
este que imagino...

Tudo o que eu penso
é longe de mim
—longe, noutros tempos.

Ai, tantas lembranças,
lembranças tão boas,
de antigas paisagens
e largos horizontes...

Aqueles dias felizes
—agora —
correm pelas águas,
viajam nas nuvens,
preenchem os sonhos.

E desmancham-se... E voam...

Thursday, September 21, 2006

PRIMAVERAS


Cantemos a primavera
primaveril
floral
ensolarada primavera.
Clássica
parnasiana
lírica
poemática
eterna primavera.

Primavera:
É o broto é a árvore é a flor
— flor-primavera —
é o canto do sabiá no jardim
na janela aberta ao sol.

É o alegre vôo da abelha
de corola em corola,
roubando no beijo,
um beijo de vida.

É o beijo estalado
o friozinho na barriga
a criança que nasce
é o brilho nos olhos de Lindinha.

Cantemos a primavera,
prima gentil da felicidade
da felicidade de amar.
De sonhar...

Wednesday, September 20, 2006

A IMAGEM E A REALIDADE

.....................................................................Para Marisa
Eis que estranhamente,
a memória é traidora:

Quantas coisas perdidas e esquecidas
não se sabe por quem há quanto tempo
subitamente ressurgem à idéia,
da maneira mais imprevista.

Como uma pequena cesta de palha,
toda forrada de cetim vermelho...

Quantos segredos ali se guardava?
Seriam doces e outras guloseimas?
Ou seriam bilhetes dalgum namorado proibido?

Nada disso.
Esse grande segredo tão bem guardado
e escondido aos olhos de menino
eram rendas, agulhas e botões.

E um coração crivado de alfinetes...

Sunday, September 17, 2006


memória,
essa máquina estranha...
Vai e vem como onda,
e mexe, mexe com a gente.
De surpresa, nos apanha...

AULA DE GEOGRAFIA


Debaixo dos olhos estão os países
e seus habitantes invisíveis.

Tão longe,
passeia entre mares e desertos,
onde voam as palavras e os fantasmas
saídos de batalhas impossíveis...

Tão longe...
Em que país ou continente
anda o estudante sem rumo,
a viver aventuras inverossímeis?

Uma voz, alto se eleva no ocidente:
O aluno volta,
recordando passeios indescritíveis.

Saturday, September 16, 2006

PAPAGAIO DE PAPEL


Bom tempo, alegria de sol,
vento.
Os meninos correm-gritam-correm.
O papagaio de papel sobe
sobre a cidade, para além, para o horizonte.
Voa, grave e audaz...
Às vezes parece imobilizar-se no azul azul,
flor artificial, suspensa.
O vento, feliz, sustenta a folha, arqueia a linha.
Aumenta o entusiasmo dos meninos que o seguem,
de olhos arregalados, extasiados:
Vigiam o colorido pássaro de papel
que vai longe, pelo vento levado.

Voa, voa, flor de papel. Alto voa sobre a cidade.
Longe, no céu ardendo, longe e linda,
brincando de pegar com o sol.

E foge da minha vida, na direção da saudade...

Sonhar


Tomar, nas horas calmas, um livro nas mãos,
pressentir o seu conteúdo
antes de virar folha por folha


e encontrar aqui e ali, como se ao levantar um véu,
.............................. [alguma beleza impresumida.

A cada página, a cada instante, como um sol,
...................................[fulgem as palavras...

Em silêncio, em pensamento, deixa-se a vida:
Para viver uma outra vida...