Thursday, September 28, 2006

OS DIAS FELIZES


Que silêncio enorme
este que imagino...

Tudo o que eu penso
é longe de mim
—longe, noutros tempos.

Ai, tantas lembranças,
lembranças tão boas,
de antigas paisagens
e largos horizontes...

Aqueles dias felizes
—agora —
correm pelas águas,
viajam nas nuvens,
preenchem os sonhos.

E desmancham-se... E voam...

Thursday, September 21, 2006

PRIMAVERAS


Cantemos a primavera
primaveril
floral
ensolarada primavera.
Clássica
parnasiana
lírica
poemática
eterna primavera.

Primavera:
É o broto é a árvore é a flor
— flor-primavera —
é o canto do sabiá no jardim
na janela aberta ao sol.

É o alegre vôo da abelha
de corola em corola,
roubando no beijo,
um beijo de vida.

É o beijo estalado
o friozinho na barriga
a criança que nasce
é o brilho nos olhos de Lindinha.

Cantemos a primavera,
prima gentil da felicidade
da felicidade de amar.
De sonhar...

Wednesday, September 20, 2006

A IMAGEM E A REALIDADE

.....................................................................Para Marisa
Eis que estranhamente,
a memória é traidora:

Quantas coisas perdidas e esquecidas
não se sabe por quem há quanto tempo
subitamente ressurgem à idéia,
da maneira mais imprevista.

Como uma pequena cesta de palha,
toda forrada de cetim vermelho...

Quantos segredos ali se guardava?
Seriam doces e outras guloseimas?
Ou seriam bilhetes dalgum namorado proibido?

Nada disso.
Esse grande segredo tão bem guardado
e escondido aos olhos de menino
eram rendas, agulhas e botões.

E um coração crivado de alfinetes...

Sunday, September 17, 2006


memória,
essa máquina estranha...
Vai e vem como onda,
e mexe, mexe com a gente.
De surpresa, nos apanha...

AULA DE GEOGRAFIA


Debaixo dos olhos estão os países
e seus habitantes invisíveis.

Tão longe,
passeia entre mares e desertos,
onde voam as palavras e os fantasmas
saídos de batalhas impossíveis...

Tão longe...
Em que país ou continente
anda o estudante sem rumo,
a viver aventuras inverossímeis?

Uma voz, alto se eleva no ocidente:
O aluno volta,
recordando passeios indescritíveis.

Saturday, September 16, 2006

PAPAGAIO DE PAPEL


Bom tempo, alegria de sol,
vento.
Os meninos correm-gritam-correm.
O papagaio de papel sobe
sobre a cidade, para além, para o horizonte.
Voa, grave e audaz...
Às vezes parece imobilizar-se no azul azul,
flor artificial, suspensa.
O vento, feliz, sustenta a folha, arqueia a linha.
Aumenta o entusiasmo dos meninos que o seguem,
de olhos arregalados, extasiados:
Vigiam o colorido pássaro de papel
que vai longe, pelo vento levado.

Voa, voa, flor de papel. Alto voa sobre a cidade.
Longe, no céu ardendo, longe e linda,
brincando de pegar com o sol.

E foge da minha vida, na direção da saudade...

Sonhar


Tomar, nas horas calmas, um livro nas mãos,
pressentir o seu conteúdo
antes de virar folha por folha


e encontrar aqui e ali, como se ao levantar um véu,
.............................. [alguma beleza impresumida.

A cada página, a cada instante, como um sol,
...................................[fulgem as palavras...

Em silêncio, em pensamento, deixa-se a vida:
Para viver uma outra vida...